O fantasma do ego-mente | Dzigar Kongtrül Rinpoche

“Agarrar-se à noção comum de eu, ou ego, é a fonte de toda a nossa dor e confusão.

A ironia é que ao olhar para este “eu” que estimamos, não conseguimos encontrá-lo. Ao dizer “eu sou velho”, nos referimos ao corpo como eu. “Estou cansado”, o ego é igualado a sentimentos físicos ou emocionais. O eu é a percepção ao dizer “eu vejo”, e pensamentos, ao dizer “eu acho”. Quando não conseguimos encontrar um ego dentro ou fora disso, concluímos que o ego é aquele que está ciente, ou a mente.

Mas ao olhar a mente, não encontramos forma ou cor. A mente que identificamos como ”eu”, que poderíamos chamar de ego-mente, controla tudo o que fazemos. Ao dizer, “fique com raiva,” ficamos com raiva; Ao dizer, “se apegue”, agimos com apego. Olhando essa relação “escravizadora”, percebemos como nos pressiona e prega peças.

Se você quer parar de ser escravo de um fantasma, você tem que exigir que a mente mostre sua face. Nenhum fantasma verdadeiro aparece quando ouve isso. Você pode praticar essa simples meditação no decorrer do dia. Qualquer momento que não souber o que fazer com você mesmo, desafie o ego-mente a mostrar a sua face. Quando você está cozinhando seu jantar ou esperando o ônibus, desafie seu ego-mente a mostrar sua face. Faça isso especialmente quando o seu ego-mente o sobrecarregar, quando você se sentir ameaçado, amedrontado ou escravizado por ele. Endireite sua postura e desafie o ego-mente. Não seja ingênuo, enrolado ou covarde. Quando você desafia seu ego-mente, seja firme porém gentil, penetrante mas nunca agressivo. Apenas diga ao seu ego-mente, “Mostre-me sua face!”. Quando nenhuma mente aparecer dizendo “Aqui estou”, o ego-mente começará a perder o domínio sobre você e os seus esforços serão clareados. Veja se isso não é verdade.

Quando questionamos o ego-mente diretamente, ele é exposto para o que é: a ausência de tudo o que acreditamos que seja. Mas o que resta? Ficamos com uma consciência aberta, inteligente, livre de um ego para proteger. Essa é a mente de sabedoria primordial de todos os seres. Relaxar nesta descoberta é a verdadeira meditação. A verdadeira meditação traz a realização última da liberação do sofrimento.”

—Dzigar Kongtrul Rinpoche no livro “It’s Up to You”

Tradução: Janine Fragoso 

kong

Dzigar Kongtrül Rinpoche nasceu no norte da Índia, em 1964. Aos nove anos de idade, perdeu seu pai, o 3º Neten Chokling Rinpoche, que estabeleceu o campo de refugiados tibetanos em Bir, na Índia. Logo após a morte do pai, Dzigar Kongtrül foi reconhecido, por Kyabje Dilgo Khyentse Rinpoche, como a reencarnação do grande Jamgön Kongtrul, reconhecimento este confirmado pelo 16º Karmapa. Dzigar Kongtrül Rinpoche foi entronizado no Chokling Gonpa, em Bir. Seu professor raiz foi Kyabje Dilgo Khyentse Rinpoche, mas teve também extensa formação sob a orientação de Tulku Urgyen Rinpoche, Nyoshul Khen Rinpoche e Khenpo Rinchen, um grande iogue e erudito.

Depois de se mudar para os Estados Unidos em 1989, o Rinpoche fundou o Mangala Shri Bhuti, uma organização criada para promover o estudo do Budadharma no Ocidente. É autor dos livros “It’s Up To You, Light Comes Through”, “Like A Diamond” e “Felicidade Incomum: O Caminho Do Guerreiro Compassivo”. É um dos mais conhecidos e respeitados mestres do budismo tibetano de sua geração. Em sua apresentação de textos clássicos budistas, o Rinpoche destaca-se por seu elevado conhecimento, sua habilidade de comunicar o significado sutil, e sua capacidade de torná-los acessíveis e úteis para os seus ouvintes. Ele é também um devotado pintor na tradição expressionista abstrata. O Rinpoche viaja por todo o mundo, ensinando e promovendo os ensinamentos do Buda.

Para mais informações, visite mangalashribhuti.org.

Comentarios:

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  • Alex Khouri

    Eu sei que pode parecer estranho, mas quando ele diz para desafiar o “ego-mente”, quem está desafiando? Como saber se quem desafia não é uma nova versão do ego tentando atacar a ele mesmo?