~ Sharon Salzberg – MInd and Life Institute, tradução Jeanne Pilli no Cultivando o Equilibrio
Há muito tempo penso que neste trecho do poema, “Escapista – Nunca”, Robert Frost capta muito do que as tradições contemplativas descrevem como desejo, uma fonte de grande sofrimento. Desejo é diferente de força motivadora, intencionalidade e determinação; no desejo há um elemento de fixação sobre o que não se tem, em detrimento de apreciar e de ser grato por aquilo que se tem. É uma busca que nunca termina, que sempre segue pensando na próxima fonte potencial de alegria, enquanto a sensação de suficiência ou de satisfação no momento presente nos escapa.
Veja onde nós estamos buscando pela felicidade: naquilo que ainda não está aqui.
No poema, há também pistas sobre as maneiras pelas quais podemos confundir prazeres temporários com a felicidade mais profunda que está à nossa disposição.
Existe uma ansiedade na felicidade que se baseia exclusivamente na experiência do prazer (por ser tão agradável), porque junto com essa dependência vem a necessidade de o prazer nunca mudar. Nós provavelmente já experimentamos o cansaço de passar de um objeto a outro, de experiência em experiência, necessitando de cada vez mais intensidade, sem estímulo suficiente para nos sentirmos vivos enfim, e que
precisamos encontrá-lo… em algum lugar. Esta é a espiral viciante: não estarmos atentos o suficiente para nos conectarmos fortemente com o que está acontecendo agora, e tentando evitar o inevitável – a insatisfação provocada por focar mais e mais o desejo.
Então, como vamos nos libertar do hábito de desejar?
Há aquele exemplo do sapo que está em um pequeno lago e é informado sobre a existência do oceano. O sapo não acredita no que lhe é dito, por estar tanto tempo submerso em seu pequeno lago, tão familiar e tão perdido nesse mundo circunscrito. O sapo não pode sequer imaginar outras possibilidades. Para explorar o mundo além da fixação do desejo, precisamos ampliar nossa imaginação, o nosso sentido de aspiração, do que é possível para nós, e explorar nossas próprias mentes.
Podemos estabelecer uma relação diferente com a nossa própria insatisfação, para que quando ela aparecer nós possamos olhar para ela de uma forma mais saudável, em vez de tentar evitá-la ou encobri-la. Podemos nos lembrar de apreciar o que está aqui, o que temos, e nos lembrar de que tudo muda inevitavelmente. Isso tudo diz respeito à meditação, que é o cultivo de uma qualidade de consciência que muda nossa relação a nossa experiência, seja ela qual for neste momento. Se sentimos que a experiência é agradável, aprendemos a estar com ela de forma mais plena, com menos distração, e deixando-a mudar. Se achamos que a experiência neste momento é dolorosa, aprendemos enfrentá-la de forma mais honesta e com mais compaixão, em vez de tentar fazer qualquer coisa para fugir dela. Se a experiência no momento presente nos parece ser neutra, nem agradável e nem desagradável, simplesmente rotineira ou comum, podemos aprender a quebrar o ciclo da busca interminável por mais intensidade, e nos conectar mais plenamente ao que está aqui, neste momento.
É assim que escapamos da prisão do desejo.
Sharon Salzberg é co-fundadora da Insight Meditation Society (IMS), em Barre, Massachusetts. Ela estuda a meditação desde 1971, orientando retiros em todo o mundo desde 1974. Seu livro mais recente, best-seller do The New York Times, é Real Happiness: The Power of Meditation: A 28-Day Program, publicado pela Workman Publishing. Ela é um colaboradora regular de The Huffington Post e é também o autora de vários outros livros, incluindo The Force of Kindness (2005), Faith: Trusting Your Own Deepest Experience (2002), and Lovingkindness: The Revolutionary Art of Happiness (1995).
Leia mais sobre este assunto clicando aqui, nos textos de Matthieu Ricard e Chagdud Rinpoche sobre ”O trabalho com o apego e o desejo”
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