Buda Shakyamuni nasceu na Índia há mais de 2.500 anos. Ele veio ao mundo como um príncipe. Mesmo quando ainda era criança, era maduro tanto em seu conhecimento como em sua compaixão. Entendeu que nós todos, por natureza, desejamos a felicidades e não queremos o sofrimento.
O sofrimento não é algo que vem sempre do exterior. Nem sempre está relacionado a problemas como a fome e a escassez. Se esse fosse o caso, poderíamos nos proteger do sofrimento, por exemplo, estocando comida. Mas o sofrimento como doença, envelhecimento e morte são problemas relacionados com a natureza intrínseca de nossa existência, e não podemos vencê-los ao mudar as circunstâncias externas. E o que é pior, temos dentro de nós esta mente indomada, suscetível a todos os tipos de problemas. Ela é afligida por energias negativas como a dúvida e a raiva. Na medida em que nossas mentes são assediadas por esta multidão de pensamentos negativos, mesmo se tivermos roupas finas e confortáveis para vestir e alimentos deliciosos à mesa, eles não resolverão os nossos problemas.
Motivado pela compaixão por todos os seres viventes, Buda Shakyamuni prestou atenção em todos esses problemas e refletiu sobre a natureza da própria existência. Descobriu que todos os seres humanos estão submetidos ao sofrimento, e viu que passamos pela experiência da infelicidade por causa de nosso estado mental indisciplinado. Ele percebeu que nossas mentes são tão rebeldes que, com frequência, não nos deixam nem dormir à noite. Confrontado com esses dilemas, foi sábio o suficiente para se perguntar se haveria um método para superar tais problemas.
Quando falamos sobre o Buda, não estamos falando de alguém que foi Buda desde o começo. Ele começou exatamente como nós. Era um ser senciente comum, sujeito ao mesmo ciclo de sofrimento que nós: nascimento, velhice, enfermidades e morte. Tinha vários pensamentos e sentimentos, tantos felizes quanto dolorosos, como nós temos. Porém, como resultado de uma prática espiritual potente e integrada, ele foi capaz de escalar os vários níveis do caminho espiritual que culmina na iluminação.
Algumas vezes, quando reflito sobre a vida do Buda Shakyamuni, tenho um sentimento incômodo. Embora o ensinamento do Buda possa ser interpretado em diversos níveis, é evidente pelos relatos históricos que ele passou por seis anos de prática rigorosa. Isso demonstra que a mente não pode ser transformada meramente pelo repouso e relaxamento, ou pelo desfrute dos confortos da vida. Isso mostra que somente através do trabalho duro e da entrega às provações durante um longo período de tempo nós seremos capazes de alcançar a iluminação.
Se lermos as histórias dos grandes mestres espirituais do passado, veremos que eles alcançaram a realização espiritual através de muita meditação, solidão e treino. Não tomaram nenhum atalho.
A raiz do sofrimento é a ignorância, o que aqui pode ser definido como a compreensão incorreta do eu. Toda infinidade de sofrimento que encontramos surge dessa compreensão incorreta, desse entendimento enganoso. Sendo assim, aqueles que seguem tais ensinamentos, pelo entendimento da visão correta e pondo-a em prática, estarão capacitados para eliminar o sofrimento.
A compaixão foi a principal motivação para que o Buda alcançasse todas as grandes qualidades de corpo, fala e mente. A essência de nossa prática também deve ser a vontade ajudar o próximo. Um desejo tão altruísta está naturalmente presente em nossos corações, no reconhecimento de que os outros são exatamente como nós, também no desejo de ser feliz e de evitar o sofrimento. É como uma semente que podemos proteger e ajudar a crescer através dos exercícios. Todos os ensinamentos do Buda tentam, essencialmente, desenvolver o coração gentil e a mente altruísta.
O caminho do Buda é baseado na compaixão, no desejo de que outros sejam libertados do sofrimento. Isso nos conduz ao entendimento de que o bem-estar dos outros é, em última análise, mais importante do que o nosso próprio, pois sem os outros não haveria prática espiritual, nem oportunidade para iluminação. Eu não presumo ter grande conhecimento ou uma alta realização, mas lembrando da bondade dos professores que me transmitiram essas instruções, e preocupado com o bem-estar de todos os seres, ofereço esses ensinamentos a você.