Tradução Clara Luz / Via Lions Roar
Pergunta: Eu noto que há um sinal na entrada do Gampo Abbey que diz ‘Aproveite a sua vida’. Nós não costumamos pensar nisso como um ensinamento espiritual, mas como observamos em uma edição recente do Lion’s Roar, aproveitar a sua vida é realmente uma prática transformadora. Mas, é difícil para muitos de nós fazermos.
É um grande sinal para se ter em um mosteiro budista. Imediatamente, isto se apresenta como um paradoxo: você não está aqui para escapar de todo o hedonismo? Você não está aqui para não buscar o prazer nas coisas exteriores?
A resposta é sim, é por isso que você está aqui. Então, nesse caso, o que significa ‘aproveite a sua vida’ se isso não significa obter prazer e sensação de bem-estar a partir de coisas externas, incluindo pessoas e relacionamentos, bem como bens materiais?
Sabe quem disse isso de uma forma melhor? Leonard Cohen. Ele meditou por todos esses anos em Mt. Baldy Zen Center, muitas vezes durante doze horas na época. Em uma entrevista, ele disse que sua história só o desgastou. Ele ficou tão aborrecido com o seu enredo dramático. E então ele fez o comentário, “Quanto menos existia de mim, mais feliz eu me tornava.”
Essa é a resposta de como desfrutar a sua vida. É estar presente e ter um senso de curiosidade sobre o que pode aparecer em um dia qualquer, incluindo tudo no seu sentido de apreciação deste precioso nascimento humano, que é tão curto. Eu não quero chamar isso de prazer, embora possa ser assim. É mais curiosidade. Algumas pessoas dizem, eu sei o que vai acontecer hoje – a mesma coisa conhecida. No entanto nunca é realmente a mesma coisa velha. Mesmo no Dia da Marmota, cada dia era uma experiência diferente para Phil, até que finalmente ele aprendeu que se preocupar com as pessoas era a resposta.
Este é de fato um grande ponto, porque quanto menos houver de você, mais você está interessado e curioso sobre as outras pessoas. As pessoas que vivem com você e as com qual você tem atritos e quem você compartilha este mundo são uma parte muito importante na apreciação da sua vida.
Sartre disse: ‘O inferno são os outros’, que é outro ponto de vista. Quando as pessoas te irritam, te incomodam, caluniam, seja o que for, você ainda tem um relacionamento com elas. É interessante que, de todos os bilhões de pessoas na terra, elas são as pessoas que vieram para o seu mundo. Há respeito por tudo o que acontece, e isso só é realmente possível se você não está rejeitando nenhuma parte da sua experiência.
Pema Chödrön é uma monja, que pratica na tradição do budismo tibetano. Foi uma discípula de Chögyam Trungpa Rinpoche, cujos ensinamentos ela continua a disseminar entre estudantes ocidentais do mundo inteiro. Nascida na cidade de Nova York, em 1936, Pema tem 2 filhos adultos e 2 netos. Formada pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, foi professora primária por muitos anos, no Novo México e na Califórnia. Pema já havia passado dos 30 anos quando se ligou pela primeira vez aos ensinamentos budistas. Em 1971, ela viajou para os Alpes franceses, onde encontrou o Lama Chime Rinpoche, com quem estudou por muitos anos. Tornou-se uma noviça em 1974, enquanto estudava com Lama Chime, na Inglaterra.
O primeiro encontro de Pema com seu guru-raiz, Chögyam Trungpa Rinpoche, foi em fevereiro de 1972. Lama Chime encorajou-a a trabalhar com Trungpa Rinpoche e foi com ele que Pema, finalmente, se ligou mais profundamente. Pema estudou com Trungpa Rinpoche de 1974 até a morte de dele, em 1987, recebendo dele sua ordenação plena em 1981. Pema continuou a estudar com grandes mestres das linhagens Kagyü e Nyingma do budismo tibetano.
Atualmente, Pema é professora residente na abadia Gampo, um centro monástico situado em uma área de duzentos acres, à beira-mar, sobre as falésias do cabo Breton, na Nova Escócia, no Canadá. Pema é uma Acharya (professor senior) de Shambhala International e, quando não está em retiro fechado, na abadia Gampo, viaja pela Europa, Austrália e América do Norte, ensinando a grandes audiências.
Pema Chödrön é a autora de “Comece onde você está“, Editora Sextante, “Os lugares que nos assustam” e “Quando tudo se desfaz”, Editora Gryphus.
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