“Que tipo de mestre zen tem ataques de pânico?” "Recentemente, pela primeira vez na minha vida, eu tive um ataque de pânico." Por Megan Rundel

Por Megan Rundel | Publicado em inglês na Lions Roar. Traduzido por Lucas Almeida.

Recentemente, pela primeira vez na minha vida, eu tive um ataque de pânico muito intenso. Eu acordei no meio da noite com meu coração batendo forte e com correntes elétricas correndo pelo meu corpo. Felizmente, pelo meu trabalho como psicóloga clinica, eu sabia o que estava acontecendo. Mas eu posso entender porque muitas pessoas que tem ataques de pânico sentem como se estivessem tendo um infarto e morrendo. Passei a hora anterior ao nascer do sol caminhando pela minha vizinhança, tentando lidar com a ansiedade que cursava pelo meu corpo. E então eu passei os próximos quatro dias lidando com o pânico.

Não coincidentemente, eu tive uma cerimônia de benção e uma celebração programadas para a semana seguinte para marcar a ocasião de me tornar uma professora na tradição Koan Zen. Eu não estive consciente de estar mais do que moderadamente ansiosa sobre essa transição, mas meu ataque me mostrou que eu estive minimizando a grandeza da situação de me tornar uma professora nessa linhagem ancestral. Assumir o papel de ensinar o darma é pisar num campo vasto, o que pode ser tanto bonito quanto atemorizante.

Como parte do evento, eu deveria dar uma palestra sobre o darma para minha comunidade. Então, eu encarei uma escolha. Eu iria fingir que o pânico não estava acontecendo e dar a palestra sobre algum tema legal do darma? Ou eu iria me permitir ter intimidade com o pânico, e praticar e falar a partir daí?

Eu olhei para os ancestrais da nossa tradição para me guiar e me inspirar e me lembrei de um poema do monge Yinyuan Longqi do século XVII:

“Você não pode acender uma lamparina.
Não há óleo na casa.
É uma pena querer uma luz.
Eu tenho uma forma de abençoar essa pobreza:
Apena sinta seu caminho ao longo do muro.”

E então, pelos próximos 4 dias, eu senti meu caminho ao longo do muro escuro da ansiedade e do pânico. Eu pratiquei em meio à um coração palpitante, com uma energia louca passando pelo meu corpo e uma forte aversão a esses sentimentos. No meio do pânico, eu pude sentir que isso era fundamentalmente uma sensação física de hiper-excitação e se eu permitisse que essa seguisse seu rumo, com atenção e um mínimo de aversão, algo interessante aconteceu.

Gradualmente, eu percebi que a ansiedade na verdade estava amaciando meu coração, fazendo-o sentir-se mais suave e responsivo. Por um tempo, era como se houvesse uma carpa nadando e se sacudindo no meu coração. Eu pude sentir meu coração se abrindo de um jeito forte. Senti-me conectada a outras pessoas, que eu havia visto e que nunca havia visto, durante a experiência de ansiedade, algo que todos compartilhamos. Daquele lugar, amor e compaixão pelos outros parecia natural, como colocar meu coração acelerado e sensível em contato com o coração do mundo. Essa é a experiência de vulnerabilidade básica, de onde os votos do bodisativa surgem espontaneamente.

Naquele fim de semana eu tive minha cerimônia de bençãos e falei com minha comunidade sobre o darma do pânico, consciente de que as pessoas poderiam se perguntar “Que tipo de mestre Zen tem ataques de pânico?”. Não é fácil se sentir tão exposta; essa vulnerabilidade me virou do avesso. O chão abaixo de mim parecia incerto à medida que eu andava com o darma do pânico. E – claro – a comunidade me apoiou.

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