Via Mind and Life Institute | Traduzido por Lucas Almeida
Atividades ao longo do dia requerem minutos (até horas) de concentração sem perturbação. Exemplos óbvios podem incluir tarefas chatas ou o trânsito, onde um foco especial é necessário para a realização da tarefa e para segurança. Mas talvez não surpreendentemente as pessoas podem ter dificuldade em manter a atenção delas em atividades importantes mesmo que por curtos períodos de tempo.
No laboratório, pesquisadores tem estudado nossa pobre habilidade em manter a atenção ao examinar como nossa performance decai quando alguém tem que manter o foco e repetir uma tarefa por um longo período de tempo. Em tradições de sabedoria como o budismo, os limites do nosso limiar de atenção já foram há muito tempo reconhecidos e ao mesmo tempo essas tradições reconhecem que nossa habilidade de direcionar e manter concentração é uma parte importante do bem-estar mental e espiritual. Por exemplo, somente quando somos capazes de sustentar a nossa atenção que podemos reconhecer, ter consciência e lidar com nossos pensamentos e emoções. Por essa razão, várias tradições contemplativas promovem um treinamento mental através da prática da meditação como meio de melhorar nossa capacidade de nos manter focados.
Nosso laboratório recentemente conduziu uma pesquisa de estudo para investigar se um mês de meditação intensiva ajudaria a melhorar a performance dos praticantes em uma difícil tarefa cognitiva que requeria concentração sustentada por 30 minutos sem pausa. Estávamos interessados em saber se a percepção subjetiva de profunda concentração dos meditadores se relacionaria com a performance deles no teste cognitivo.
Recrutamos 30 pessoas que estavam participando de um retiro de 1 mês de meditação no Spirit Rock Meditation Center em Woodacre, California. Um segundo grupo de indivíduos, usados como grupo controle, foi recrutado da comunidade local de Spirit Rock. O grupo controle possuía experiência prévia com meditação mas não estava submetido ao treinamento de meditação intensiva durante o estudo.
Antes e depois do retiro de meditação, cada pessoa no estudo fez um teste em um computador onde eles visualizavam intencionalmente a tela à medida que linhas apareciam, uma de cada vez. Foi pedido a cada participante para reagir com o mouse sempre que eles vissem linhas compridas (que eram comuns). Raramente, uma linha curta aparecia, e o voluntário tinha que não clicar naquela linha. O teste durou 30 minutos e demandou esforço cognitivo. Depois de terminado o teste, os participantes preencheram um questionário sobre a experiência deles (por exemplo, quanto a mente deles ficou vagando etc). O grupo controle submeteu-se ao mesmo processo de teste.
Descobrimos que os participantes foram melhores em não clicar nas linhas curtas após o treinamento do que foram antes do treinamento. Especificamente, eles foram mais capazes de distinguir as linhas curtas das compridas e foram capazes de parar a si mesmos quando percebiam a linha curta que era rara. Importante também foi que a performance não declinou tanto com uma tarefa de 30 minutos como anteriormente ao treinamento, sugerindo que a experiência do retiro de meditação de 1 mês ajudou os participantes a sustentarem a atenção ao longo do tempo. Quando examinamos a velocidade dos cliques do mouse deles, também encontramos que os participantes foram mais constantes e consistentes seguindo treinamento. Esses achados confirmaram a experiência pessoal relatado pelos meditantes, que disseram que eles se sentiam mais focados durante o teste. Em contraste, a performance do grupo de comparação não mudou durante o período de teste.
Este estudo, publicado em uma edição da Frontiers in Human Neuroscience, adiciona a um corpo crescente de evidências – tanto neural e comportamental – que sugere que a atenção pode ser melhorada através de treinamento mental, e que a meditação pode melhorar a capacidade das pessoas de manter a atenção estável e focada.